A noite estava escura, não havia
sinal de luar. Ao menos para ele.
Era
inverno dentro de sua alma, apesar de ameno, o frio ainda cortava e gelava
dentro de suas artérias.
Mas mesmo assim, saiu.
Foi
então que a conheceu. E
se encantou, talvez com seu jeito, seu estilo, seu modo de falar, talvez uma
mistura de tudo, só sabia que sua presença era agradável, a conversa era boa,
sentia-se bem como a muito não sentia.
O
tempo passou. A afinidade foi aumentando a cada dia, e percebia que o tal
encantamento, teimava em transformar-se em sentimento, o que o preocupava
demasiadamente. Não, não agora. Não é o momento.
Até
que, numa noite de primavera, suas mãos se entrelaçaram e o primeiro beijo
aconteceu. Aconteceu de uma forma natural, simples, havia um pouco de magia,
encanto, ternura, calor, um pouco de tudo.
Era
bom. O inverno foi dissipando-se lentamente de seu peito, dando lugar ao calor
aconchegante, terno, sereno. Sem
perceber, os laços começaram a se estreitar.
Não,
isso não podia acontecer, não agora, não dessa forma.
E desde então, a distância tomou o seu lugar.
Quando
se encontravam, era bom, como se cada momento fosse único, e a distância entre
eles se dissipasse. Mas em pouco tempo, tudo voltava como antes. Boa
parte da reciprocidade foi diluindo-se, talvez numa mistura de medo,
insegurança, ou mesmo sentimentos, que lembranças passadas traziam a tona.
O
que no inicio era doce, começou a perder o encanto, o sorriso, vivia sem saber
o quanto este momento poderia durar. Mesmo
assim, sentia-se muito atraído por ela. Existia entre os dois, uma química, uma
empatia, ou talvez um magnetismo que os aproximava, sobretudo quando se viam um
nos olhos do outro.
Mas
mesmo com a distância, mesmo não querendo, não podendo, não estava em seus
planos se envolver novamente. O sentimento, esta flor delicada, mas forte,
brotou dentro dele. Mesmo sabendo que ela não se sentia da mesma forma, apesar
de toda a distância, de negar pra si e para os amigos mais próximos o que
ocorria, era tarde demais.
Observava
outras garotas, algumas bonitas, interessantes, mas nenhuma delas
despertavam-lhe as sensações que ela lhe provocava. Envolver-se, tentar algo ou
mesmo beijar outra mulher não passava por sua cabeça, tampouco por seu coração.
Não se sentia atraído por ninguém, não sentia vontade de beijar outros lábios
que não fossem o dela.
Criava
desculpas para si mesmo, dizendo que era apenas uma fase, que gostava da
solidão. Até
que o rapaz se deu conta de que estava mais envolvido do que pensava. Apenas
varria o sentimento para debaixo do tapete, escondendo de si próprio, toda
aquela emoção.
De
todas as garotas que conhecia, não sentia emoção, não lhe interessava. Apenas lembrava-se
dos profundos olhos castanho-escuro, de seus negros cabelos cacheados, do modo
em que ela o fazia rir, da sensação que sentia quando suas mãos se entrelaçavam
do calor do seu abraço. Ele
sabe, tem consciência de que não podia, não devia sentir, mas sentimento é tal
como cavalo selvagem, impossível domar.
Mas
ele tem consciência de que ela não sente o mesmo, ou ao menos, desconfia,
devido às atitudes da garota, só gostaria que as coisas fossem um pouco como
eram no inicio, que o gelo da distância, se derretesse, dando lugar à amizade
que antes existia entre os dois. Que as risadas, as conversas diárias, os
encontros, se tornassem frequentes como eram antes. Mas
ela, a garota de pele alva, Cabelos negros e olhos profundos, permaneciam na
neutra distância que os envolvia.
O
tempo passou, e em uma tarde de outono, a decepção embaçou os olhos dele, a
mágoa embargou sua voz.
Via
o passado, um passado negro e repetir, ali, bem na sua frente, exatamente no
mesmo lugar.
Se
coração encheu-se de uma mistura de raiva e mágoa, que enlameou seu coração.
Mais
uma vez, o pacto não se cumpriu, o cristal da confiança se partiu.
Ele
abrira seu coração a ela, e ela fez a única coisa que ele disse que iria
feri-lo.
Mas
ele, não brigou, com a garganta ardendo, engoliu as lágrimas salgadas,
a
abraçou e se despediu.
Andréia Martins.M.Lopes