quinta-feira, 21 de maio de 2009


"DIÁRIO DA MORTE: 1942
- UMA VERDADEZINHA -
Eu não carrego gadanha nem foice.
Só uso um manto preto com capuz quando faz frio.
E não tenho aquelas feições de caveira que vocês
parecem gostar de me atribuir à distância.
Quer saber a minha verdadeira aparência?

Eu ajudo. Procure um espelho enquanto eu continuo."
(Trecho retirado do livro "A Menina que Roubava Livros")

Canto para minha morte

Eu sei que determinada rua que eu já passei

Não tornará a ouvir o som dos meus passos.

Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar

Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?

Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?

Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando

Embora eu ainda não a conheça?

Vou te encontrar vestida de cetim,

Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.

Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

Qual será a forma da minha morte?

Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.

Existem tantas... Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida

O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...

Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa q
uando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva

E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,

Nos meus filhos, na palavra rude

Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...


Vou te encontrar vestida de cetim,

Pois em qualquer lugar esperas só por mim

E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.

Eu te detesto e amo morte, morte, m
orte
Que talvez seja o segredo desta vida

Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

(Raul Seixas)

6 comentários:

gui grape disse...

Quando eu morrer não quero nada tradicional, do tipo: "descanse em paz"
Quero um epitáfio grivado de criatividade
Algo como: "eu voltarei!!! eu voltarei!!! hieheheehehe"
ops...empolguei um pouquinho, acho...^-^

Andréia Martins.M.L disse...

hahahahahaha adorei o comentário!!bjs Gui

gui grape disse...

obrigado ´-^ esse comentário só foi possivel graças ao patrocionio
da funeraria "foi pro beleleu!!!"
Em caso de reclamações, só devolvemos o dinheiro pra quem já morreu!!!

Palavras ao vento disse...

huahauahuahuahauhauha PALA

Pedro disse...

A morte será uma esperiencia unica e interessante.O que será que vem depois dela?
Nao sei,quero saber,mas saber e nao poder compartilhar com os vivos será uma tortura!
hehehe acho que isso é um paradoxo.

Saco de Bagulhos disse...

Oi, Deia! Valeu pela visita no meu blog, apareça sempre. Vim retribuir e conhecer teu blog e gostei, achei muito interessante. E essa música do Raul, tão louca quanto ele!! rs Certamente voltarei mais vezes.
Tenha uma ótima semana.
Beijo